Os primeiros estudos epidemiológicos associando baixos níveis de atividade física com maior risco de desenvolver câncer surgiram nos anos 1980. Hoje, diversas pesquisas confirmam que se movimentar é um dos principais fatores para uma rotina saudável que auxilia na prevenção do câncer e de outras doenças.
Primeiro, precisamos fazer uma distinção entre atividade física e exercício físico: enquanto os exercícios são práticas estruturadas, com objetivos, como esportes ou treinos na academia, as atividades físicas incluem qualquer movimentação do corpo com gasto de energia acima do nível de repouso.
As pesquisas científicas ainda precisam aprofundar o entendimento que temos dos mecanismos por meio dos quais a atividade física ajuda a prevenir doenças, mas já sabemos que se exercitar melhora a atuação do sistema imune e ajuda a reduzir inflamações. Além disso, a atividade física auxilia a evitar obesidade, fator de risco associado a pelo menos uma dezena de tipos de câncer.
O ideal, segundo a Organização Mundial da Saúde, é distribuir pelo menos 150 minutos de atividade física moderada ao longo da semana, ou 75 minutos de atividade física de nível vigoroso no mesmo período.
Para saber a diferença de intensidade na hora de praticar uma atividade física, existem dicas importantes: se você consegue falar ou cantar enquanto se movimento, a atividade está leve. Se falar exige dificuldade e já não é possível cantar, o nível é moderado. Atividades físicas vigorosas são aquelas em que não é possível conversar enquanto são realizadas.
Mas um lembrete importante, reforçado pelas evidências científicas, é que todo movimento importa. Mesmo que não seja possível incluir exercícios físicos estruturados na rotina, optar por subir escadas em vez de pegar o elevador, caminhar, passear com animais de estimação e se movimentar em momentos de lazer já ajuda.
Estudos demonstraram que atividade física inserida em momentos de lazer foi associada com uma redução de 6% a 29% do risco de vários tipos de câncer – como de cólon, mama, endométrio, rins, fígado, mieloma e linfoma não-Hodgkin. Começar aos poucos também é uma boa dica para introduzir atividades vigorosas no cotidiano.
Mas só o exercício não é suficiente para compor uma rotina saudável. A maioria dos estudos que relacionam atividade física ao risco de câncer são de caráter observacional, ou seja: os cientistas realizam questionários com pessoas que são acompanhadas por determinado período de tempo, e depois são feitas associações entre diagnósticos de doenças e os hábitos dos participantes.
Isso significa que outros fatores entram na balança na hora de calcular os riscos de desenvolver câncer: ter uma dieta equilibrada, evitar o tabagismo e o consumo de álcool, e manter um peso corporal saudável ajudam a diminuir as chances de ter câncer.
Estima-se que 27% dos casos de câncer poderiam ser evitados entre brasileiros a partir da adoção de um estilo de vida mais saudável.
Para pacientes oncológicos
Um grupo cada vez maior de evidências científicas mostra também que as atividades físicas trazem benefícios, inclusive, para pessoas que já têm um diagnóstico de câncer e estão em processo de tratamento. A prática ajuda a atenuar sintomas do câncer e efeitos colaterais do tratamento, bem como melhora a qualidade de vida do paciente.
Há pesquisas com evidência moderada de que é possível aumentar a sobrevida em casos de câncer de mama, próstata e colorretal a partir da prática de atividades físicas de intensidade moderada ou vigorosa.
Uma análise de 10 estudos relativos ao câncer de mama mostrou que aumentar a quantidade de atividade física após o diagnóstico foi um fator associado à redução em 38% do risco de mortalidade.
É evidente que a prática física para pacientes oncológicos deve ser acompanhada de perto pela equipe médica. Cada tipo de câncer implica em cuidados específicos na hora de se movimentar. Caso haja infecções, risco de desequilíbrio, metástase óssea ou desenvolvimento de osteoporose, algumas atividades físicas devem ser evitadas.
Estima-se que até 10% dos tumores são hereditários. Genes associados a dezenas de síndromes de câncer hereditário já foram identificados pela ciência. Quando existe suspeita dessa alteração, é possível recorrer a um geneticista ou oncologista e realizar um teste para avaliar os riscos que uma pessoa tem de carregar aquele gene e, consequentemente, vir a desenvolver um tumor.