Cirurgia para Câncer Retal: Opções de tratamento e o que esperar

O câncer retal pode afetar muitas das funções mais básicas do corpo. Por isso, é importante o equilíbrio entre tratar o câncer e preservar as funções corporais e a qualidade de vida.

O câncer retal representa um desafio único na medicina oncológica devido à localização estratégica do reto no sistema digestivo e sua proximidade com estruturas vitais da pelve. Esta região anatômica desempenha papel fundamental em funções básicas que consideramos naturais no dia a dia.

O reto é responsável pelo armazenamento temporário das fezes e pelo controle da evacuação, uma função que depende da coordenação complexa entre músculos, nervos e o esfíncter anal. Quando o câncer se desenvolve nesta área, pode comprometer diretamente esses mecanismos de controle, alterando os padrões normais de evacuação e causando sintomas como mudanças na consistência das fezes, urgência ou incontinência.

Além disso, a proximidade do reto com órgãos reprodutivos, bexiga e estruturas nervosas significa que o tumor pode afetar outras funções corporais essenciais. Pacientes podem experimentar alterações na função urinária, desconforto pélvico e, em casos mais avançados, impacto na função sexual.

O crescimento do tumor também pode causar obstrução intestinal, dificultando ou impedindo a passagem normal do conteúdo digestivo. Isso não apenas causa desconforto significativo, mas pode levar a complicações graves se não tratado adequadamente.

Por essas razões, o tratamento do câncer retal exige uma abordagem especializada que considere não apenas a eliminação do tumor, mas também a preservação máxima possível dessas funções vitais, buscando equilibrar eficácia oncológica com qualidade de vida pós-tratamento.

Tipos de cirurgia para câncer retal

Existem três tipos principais de cirurgia utilizados para tratar o câncer retal. A excisão local transanal é usada para cânceres retais em estágio muito inicial, onde o cirurgião remove uma pequena área da parede do reto que contém o tumor através de instrumentos passados pelo ânus. Este é um procedimento menos invasivo adequado apenas para casos iniciais.

A proctectomia é usada para a maioria dos casos de câncer retal. Durante este procedimento, o cirurgião remove toda ou parte do reto que contém o tumor. Na cirurgia preservadora do esfíncter, o cólon é conectado ao reto restante ou diretamente ao ânus, permitindo que o paciente mantenha a passagem intestinal pelo ânus, embora os padrões de evacuação provavelmente sejam diferentes. 

Para proteger a nova conexão, o cirurgião frequentemente cria uma ileostomia temporária, uma bolsa plástica que coleta os resíduos do trato digestivo. Se o esfíncter não puder ser preservado, será criada uma colostomia permanente com bolsa coletora.

A exenteração pélvica é necessária quando o câncer retal se espalhou para órgãos vizinhos na pelve. Esta cirurgia altamente especializada remove o reto e qualquer parte de órgãos adjacentes afetados pelo tumor, incluindo intestino, órgãos reprodutivos, bexiga, osso ou outros tecidos. Após a remoção, os cirurgiões realizam a reconstrução necessária. Pacientes que passam por este procedimento geralmente precisam de uma bolsa de colostomia permanente.

Muitos pacientes com câncer retal precisarão de tratamentos adicionais, geralmente uma combinação de quimioterapia, radioterapia e cirurgia. Frequentemente, a quimioterapia e radioterapia são realizadas antes da cirurgia.

Processo de recuperação pós-cirúrgica do câncer retal

O período de recuperação após cirurgia para câncer retal apresenta características distintas dependendo do procedimento cirúrgico realizado.

Pacientes submetidos à proctectomia têm um período de internação hospitalar que oscila entre 2 e 5 dias, permanecendo até que os movimentos intestinais sejam restabelecidos. O retorno à mobilidade ocorre precocemente, com a maioria dos pacientes iniciando atividade de caminhada nas primeiras 24 horas após o procedimento.

O funcionamento do sistema digestivo geralmente é restaurado entre o segundo e terceiro dia pós-operatório. O manejo da dor segue um padrão característico: maior intensidade durante as primeiras 48 horas, com redução progressiva nos dias subsequentes. As equipes médicas especializadas implementam protocolos de recuperação acelerada, que promovem uma reabilitação mais eficiente e reduzem a dependência de analgésicos.

Pacientes que se submetem à exenteração pélvica enfrentam um processo de recuperação mais prolongado e complexo. O período de internação se estende tipicamente por 2 a 3 semanas, seguido por vários meses dedicados à recuperação da força física através de programas de fisioterapia especializados.

Pacientes que recebem ileostomia temporária ou colostomia permanente podem necessitar de tempo adicional de hospitalização. Este período estendido destina-se à adaptação e aprendizado do manejo adequado do dispositivo de coleta, garantindo que o paciente desenvolva autonomia e confiança no cuidado da ostomia antes da alta hospitalar.

Adaptação e qualidade de vida com ostomia

O uso da bolsa de ostomia pode ser uma solução temporária ou definitiva. Dependendo da situação clínica, o dispositivo pode ser necessário por um período de 2 a 6 meses ou por toda a vida. A equipe de saúde fornecerá orientações completas sobre o esvaziamento da bolsa e outras adaptações importantes para o seu cuidado.

Embora a ostomia exija certas adaptações no dia a dia, é fundamental compreender que, diferentemente do que muitas pessoas imaginam, a grande maioria dos pacientes ostomizados consegue retomar uma vida plena e ativa, voltando a praticar as atividades de que desfrutavam anteriormente.

Após o procedimento cirúrgico, é natural que os hábitos intestinais se modifiquem, e o organismo necessita de tempo para se adaptar a essa nova condição. Progressivamente, a maioria dos pacientes estabelece uma rotina personalizada que se adequa às suas necessidades e estilo de vida.

Para obter informações mais detalhadas sobre ostomia, cuidados específicos e dicas práticas para o dia a dia, acesse Ostomia: O que esperar após o procedimento cirúrgico.

Oncologista em São Paulo - Dr. Hugo Tanaka

Dr. Hugo Tanaka
Oncologista Clínico
CRM 163241 | RQE 100689 – Oncologia Clínica

Oncologista clínico e pesquisador atuante em São Paulo, com sólida formação acadêmica que inclui doutorado e mestrado em oncologia clínica e atendimento multidisciplinar.
Especialista certificado pela Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), desenvolve práticas médicas integradas com foco em atendimento humanizado e ágil, sempre baseado em diretrizes internacionais.

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