O sistema imune é o responsável por defender o organismo de infecções e doenças, mas nem sempre consegue barrar todos os inimigos. Em alguns casos, o câncer consegue enganá-lo e só é reconhecido quando o tumor já em estágio avançado.
A imunoterapia age melhorando a forma como a imunidade funciona, permitindo que ela volte a identificar as células cancerígenas visando eliminá-las. Algumas vezes, o sistema imunológico não reconhece as células cancerígenas como estranhas porque estas não são suficientemente diferentes das células normais. Em outros casos, o sistema as reconhece, mas sua resposta não é suficiente para destruir o tumor. As próprias células cancerígenas podem também liberar substâncias que impedem as defesas do corpo de as encontrar e atacar.
Com a ajuda da ciência, a imunoterapia melhora a resposta do sistema de defesa, aumentando sua capacidade de reação. É um tratamento personalizado: em muitos casos são usados medicamentos conhecidos como inibidores de checkpoint; em outros são as próprias células do paciente que, após seleção e tratamento laboratorial, são infundidas de volta por via intravenosa.
Tipos de imunoterapia
Terapia de controle imunológico
Uma das mais conhecidas é a terapia de controle imunológico ou inibidores de checkpoint, que ajuda as chamadas de células T, que combatem o câncer, a reagir e dar uma resposta mais duradoura. São medicamentos que ajudam a tirar as “travas” que impedem as células T de reconhecer o câncer.
O sistema imune depende das células T para combater o câncer, porque são células especializadas na defesa do organismo e, se desreguladas pelo câncer, podem até mesmo danificar as células saudáveis e não combater o câncer. Mas a atividade das células T pode ser controlada por meio de pontos de controle imunológico ou inibidores de checkpoint, que podem ser positivos ou negativos. Os positivos ajudam as células T a continuar o seu trabalho, enquanto os negativos desligam as células T.
Esses inibidores de checkpoint foram descobertos nos anos 1990, por Jim Patrick Allison e Tasuku Honjo (ganhadores do prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina), que descobriram proteínas que funcionam como “freios para as células T. Allison descobriu como bloquear a proteína CTLA-4, e a descoberta resultou na medicação ipilimumab. Já Honjo descobriu a proteína o PD-1, que se traduziu no pembrolizumab e o nivolumab.
Essa é ainda hoje uma das frentes mais promissoras no tratamento de vários tipos de câncer, tais como:
- Câncer de bexiga;
- Câncer de mama;
- Câncer de cabeça e pescoço;
- Linfoma de Hodgkin;
- Câncer de rim;
- Melanoma;
- Câncer de pulmão de células não pequenas.
Mais recentemente foram lançadas também os Inibidores de PD-L1, que são o atezolizumab, avelumab e durvalumab. Essas medicações são usadas também a diferentes tipos de tumor, incluindo:
- Câncer de bexiga;
- Câncer de mama;
- Carcinoma de células de Merkel;
- Câncer de pulmão de células não pequenas.
Terapia celular adotiva
Este tipo de imunoterapia aumenta o número e/ou a eficácia das células imunológicas, normalmente células T, potencializando a resposta ao tumor. Existem quatro tipos principais de terapia celular adotiva:
- Terapia celular CAR T: consiste na infusão de grandes quantidades de linfócitos T geneticamente modificados capazes de encontrar e destruir o tumor. É feita no hospital, e o paciente fica sob observação por uma ou duas semanas. A infusão não demora mais que uma hora. Antes, porém, é submetido a sessões de quimioterapia para reduzir a imunidade, dando mais chances de as células CAR T agirem;
- Terapia com natural killers (NK): as NK são células do sistema imune que identificam e matam células anormais, incluindo as células cancerígenas. Mas muitos cânceres são bons em evitar a sua detecção. Neste tratamento as células NK também são modificadas geneticamente para reconhecer melhor o câncer. As células são coletadas, por meio de um método chamado aférese, ativadas e expandidas em laboratório e depois infundidas por via intravenosa;
- Terapia com linfócitos infiltrantes de tumor (TIL): utiliza as células T do paciente, as quais são recolhidas de um pedaço de tumor removido cirurgicamente. Embora reconheçam o câncer, estas células estão em número reduzido para serem bem sucedidas nesta tarefa. Então, o número das células é aumentado em laboratório para depois serem infundidas no paciente, também pela via intravenosa;
- Terapia com células T endógenas (ETC): do conjunto diversificado das células de defesa, os médicos selecionam as células T capazes de reconhecer assinaturas específicas do câncer. O número dessas células T específicas é aumentado substancialmente em laboratório e depois injetado no paciente.
Vacinas contra o câncer
As vacinas contra o câncer funcionam da mesma maneira: ajudando o organismo a reconhecer as células cancerígenas e destruí-las. As vacinas contra o câncer contêm geralmente um dos seguintes elementos:
- Células cancerígenas retiradas do tumor do paciente;
- Proteínas concebidas para se ligarem às células cancerígenas e destruí-las;
- Proteínas específicas do tumor.
Anticorpos monoclonais
Os anticorpos monoclonais se ligam a proteínas específicas na superfície das células cancerígenas ou das células imunes para combatê-las. Estes anticorpos agem de duas formas: marcam o câncer como “um alvo” para o sistema imunitário agir ou aumentam a capacidade dos linfócitos de combater a doença.
Terapia com citocinas
As citocinas são um tipo de proteínas de sinalização produzidas pelas células imunes do sangue e atuam na comunicação entre as células durante a resposta imunológica. As citocinas mais usadas são o interferon e interleucinas, como a interleucina-2 (IL-2). Este tipo de tratamento pode ser combinado com outros tipos de imunoterapia para aumentar sua eficácia. Atualmente, é indicada para tratar melanoma, câncer renal e certas leucemias e linfomas.