Tipos de câncer

Câncer de Pulmão

Câncer de pulmão: conheça as causas e os principais tratamentos Regiões sul e sudeste do país concentram a maior partes dos casos

O câncer de pulmão é uma doença que se desenvolve, com mais frequência, nas células que revestem as passagens por onde passa o ar. A multiplicação descontrolada das células que dão origem ao tumor pode ser resultado da exposição a toxinas como fumaça de tabaco, radiação e amianto, entre outros fatores ambientais.

Geralmente começa nas vias aéreas (brônquios ou bronquíolos) ou nos pequenos sacos de ar (alvéolos) dos pulmões, podendo se disseminar por outras partes do corpo.

Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), o câncer de pulmão é um dos cinco mais comuns no Brasil, e sua taxa de incidência é maior nas regiões Sul e Sudeste.

Mundialmente, é o segundo mais incidente, com 2,2 milhões de casos novos, o que corresponde a 11,4% de todos os tipos de câncer. Entre homens, ocupa a primeira posição e, entre as mulheres, a terceira.

Tipos de câncer de pulmão

Existem dois tipos principais de câncer de pulmão. Eles são chamados de câncer de pulmão de células não pequenas e câncer de pulmão de células pequenas. A diferença está no tipo de células que o câncer iniciou.

Câncer de pulmão de células não pequenas (CPCNP): É o tipo mais comum, representando cerca de 80% a 85% dos casos. Inicia quando as células que revestem os pulmões crescem desordenadamente, formando um tumor. A cirurgia é o tratamento mais indicado para o câncer de pulmão de células não pequenas em estágio inicial. Existem dois subtipos principais: o adenocarcinoma e o carcinoma de células escamosas. Outros subtipos menos comuns são o carcinoma de células grandes e carcinoma sarcomatoide.

  • Adenocarcinoma: inicia nas células epiteliais, que revestem os alvéolos. É o tipo mais comum de câncer de pulmão em pessoas que não fumam;
  • Carcinoma de células escamosas: o tumor cresce a partir das células escamosas, que revestem o interior das vias aéreas nos pulmões. Normalmente está relacionado ao tabagismo;
  • Carcinoma de células grandes: também chamado de câncer de pulmão indiferenciado, pode aparecer em qualquer parte do pulmão e tende a crescer e se espalhar rapidamente;
  • Carcinoma sarcomatoide: é uma variante muito rara do carcinoma escamoso.

Câncer de pulmão de pequenas células (CPPC): representa cerca de 10% a 15% dos casos de câncer de pulmão. Geralmente, inicia nas regiões mais centrais do tórax e está associado ao tabagismo. Tende a crescer e se espalhar mais rapidamente do que o de células não pequenas.

Um terceiro tipo, menos comum, de câncer de pulmão é chamado de tumores carcinoides pulmonares, também conhecido como tumores neuroendócrinos pulmonares, são responsáveis ​​por menos de 5% dos cânceres de pulmão.

Sintomas

O câncer de pulmão, em estágios iniciais, geralmente não causa sintomas. Os sinais surgem à medida que a condição progride e o tumor cresce, afetando o funcionamento dos pulmões. Os sintomas mais comuns incluem:

  • Tosse persistente que não desaparece após 3 semanas ou uma tosse existente que piora;
  • Tosse com sangue;
  • Falta de ar ou dificuldade para respirar;
  • Cansaço ou falta de energia inexplicáveis;
  • Dor no peito ao respirar ou tossir;
  • Perda de apetite ou perda de peso inexplicável;
  • Alterações nos dedos (como curvatura ou aumento nas extremidades;
  • Chiado no peito;
  • Voz rouca;
  • Inchaço no rosto ou pescoço;
  • Dor persistente no peito ou ombro.

Se o câncer de pulmão se espalhar para outros órgãos e tecidos, os sintomas se modificam, e os sinais mais comuns são:

  • Dor de cabeça, tontura ou convulsão;
  • Dor nos ossos;
  • Fraqueza ou dormência nos membros, como braços ou pernas;
  • Problemas de equilíbrio ou marcha instável;
  • Coloração amarela (icterícia) da pele e dos olhos;
  • Gânglios linfáticos inchados no pescoço ou ombro.

Fatores de risco

Os principais fatores de risco para o câncer de pulmão são:

  • Tabagismo;
  • Exposição ao fumo passivo;
  • Exposição a produtos químicos, como amianto e arsênio;
  • Poluição atmosférica;
  • Histórico familiar de câncer de pulmão;
  • Infecção pelo HIV, o vírus da aids;

Diagnóstico e prevenção

Os pacientes com elevado risco de câncer de pulmão, seja por causa do histórico familiar, tabagismo ou exposição a produtos químicos, devem fazer rastreamentos regulares. É indicada a realização de radiografias, incluindo tomografia computadorizada (TC) ou PET Scan.

O raio-x do tórax é frequentemente o primeiro teste usado para diagnosticar câncer de pulmão, podendo aparecer como uma massa branco-acinzentada. O exame, no entanto, não consegue diferenciar com precisão o câncer de outras condições, como abscessos.

Se uma radiografia de tórax sugerir que você pode ter câncer de pulmão, o médico pode solicitar outros exames para investigar, como uma tomografia computadorizada (TC) que fornecerá imagens mais detalhadas do pulmão. E o PET-CT pode ser realizado se a TC indicar câncer, mostrando áreas com células cancerosas ativas e disseminação a outros órgãos.

Se os resultados dos exames de imagem indicarem a existência de câncer de pulmão, o próximo passo é a remoção de uma pequena amostra de tecido ou líquido do pulmão para exame, que irá para biópsia.

A biópsia pode ser feita de diferentes formas, dependendo da localização do tumor:

  • Biópsia por agulha: na biópsia guiada por tomografia computadorizada (TC), uma agulha é inserida até o local do tumor, através da pele e com anestesia local, permitindo retirar um pedaço do tecido afetado para identificar a presença de células cancerígenas. Outro tipo é a aspiração por agulha fina (FNA), que retira uma pequena amostra de tecido por sucção usando uma agulha muito fina como o próprio nome indica;
  • Toracocentese: também conhecida como punção pleural, consiste na retirada do líquido ao redor dos pulmões com o uso de uma agulha;
  • Broncoscopia: um tubo fino e flexível com uma câmara minúscula é introduzido através do nariz ou da boca e desce até aos pulmões para obter uma pequena amostra de tecido;
  • Ultrassonografia endobrônquica (EBUS): um broncoscópio com um dispositivo de ultrassom acoplado identifica a existência de células cancerígenas nos gânglios linfáticos torácicos. Geralmente é realizado ao mesmo tempo que uma broncoscopia e requer anestesia geral;
  • Cirurgia toracoscópica assistida por vídeo (VATS): é realizada na parede torácica, guiada por tomografia computadorizada ou fluoroscopia. É feita por um cirurgião e requer anestesia geral, sendo indicada para retirar amostras de tumores localizados em áreas do pulmão de difícil acesso;
  • Toracoscopia ou pleuroscopia: um tubo fino e flexível com uma câmara minúscula é inserido através de uma pequena incisão nas costas (para uma toracoscopia) ou entre as costelas (para uma pleuroscopia) para rastrear o tecido suspeito.

Para completar o diagnóstico do câncer de pulmão, realiza-se uma avaliação para saber se há metástases. O estadiamento do câncer, como é chamado, é feito após uma tomografia por emissão de pósitrons (PET-CT) e uma ressonância magnética ou tomografia computadorizada (MRI). O resultado desses exames orientará as decisões de tratamento, tornando-o mais personalizado. O PET-CT também pode ser combinado à tomografia computadorizada (CT), usando o mesmo equipamento, para obter imagens mais precisas, sendo o padrão ouro atualmente.

Especialmente para câncer de pulmão de células não pequenas (NSCLC), também é possível verificar alterações genéticas específicas presentes no tumor, por meio do teste molecular (teste genômico) de tumor de pulmão. Esses testes genéticos podem ser feitos a partir de uma coleta de sangue (biópsia líquida) ou de uma amostra de tecido retirado durante uma biópsia ou cirurgia para câncer de pulmão. Servem para personalizar ainda mais o tratamento.

Estágios do câncer de pulmão

O estadiamento do câncer de pulmão é usado para determinar a extensão da doença, auxiliando nas decisões de tratamento e prognóstico.

O sistema TNM é usado para o câncer de pulmão de células não pequenas (CPCNP), onde:

  • T descreve o tamanho do tumor, de 1 a 4;
  • N se há disseminação do câncer para os gânglios linfáticos, em uma escala de 1 a 3; e
  • M se o câncer se espalhou para outros órgãos, com estágios do 0 a 1.

Frequentemente, o estadiamento TNM pode ser simplificado em quatro estágios (I-IV). Para alguns cânceres, há também um estágio 0.

  • Estágio 0: células anormais detectadas não se disseminaram para os tecidos adjacentes, conhecido como “in situ”. É um estágio pré-cancerígeno;
  • Estágio I: tumor está confinado ao pulmão;
  • Estágio II: tumor apresenta um tamanho maior do que no estágio 1 ou pode ter se espalhado para os linfonodos dentro do pulmão;
  • Estágio III: o câncer se disseminou para os linfonodos do mediastino, ou para estruturas próximas ao pulmão e/ou há presença de mais de um tumor;
  • Estágio IV: câncer se espalhou para outras áreas do corpo, tornando-se metastático. Nesta fase, o câncer geralmente não tem cura, mas muitas vezes é possível controlá-lo como uma doença crônica.

Para ilustrar o tamanho dos tumores, alguns alimentos populares podem servir como referência, entre eles: as ervilhas (1 cm), os amendoins (2 cm), as uvas (3 cm), as nozes (4 cm), os limões (5 cm ou 2 polegadas), os ovos (6 cm), os pêssegos (7 cm) e as toranjas (10 cm ou 4 polegadas).

Para o câncer de pulmão de células pequenas, os estágios são mais simples:

  • Estágio limitado: câncer está em um pulmão e em linfonodos próximos;
  • Estágio extenso: câncer se espalhou para o outro pulmão, para linfonodos mais distantes ou para outros órgãos.

Tratamento

O tratamento para câncer de pulmão depende do tipo, estágio, extensão da disseminação e do estado de saúde geral do paciente.

Cirurgia

Entre as formas de cirurgia para câncer de pulmão, estão a 1) cirurgia aberta, chamada também de toracotomia (técnica cirúrgica tradicional, que requer uma incisão de 10 a 20 centímetros entre as costelas), 2) a cirurgia torácica videoassistida (VATS) ou toracoscopia (procedimento minimamente invasivo, que utiliza uma câmera para guiar a remoção do tumor por meio de pequenas incisões) e/ou 3) a cirurgia torácica robótica (semelhante à VATS, porém, com braços robóticos controlados pelo cirurgião).

Dependendo do tamanho e da localização do tumor, o cirurgião pode adotar diferentes procedimentos, tais como:

  • Lobectomia: remoção de todo o lobo do pulmão onde está o tumor (o pulmão tem cinco lobos, três do lado direito e dois do esquerdo). É considerada o tratamento padrão para a maioria dos casos de câncer de pulmão que necessitam de cirurgia.
  • Pneumonectomia: remove todo um pulmão. É realizada quando o tumor é muito grande ou está localizado em uma área onde outras cirurgias não são possíveis.
  • Lobectomia em manga ou Ressecção sleeve: forma mais complexa de lobectomia usada para tumores localizados centralmente. Remove o lobo onde o tumor está e parte do brônquio conectado. É preferível à pneumonectomia, pois preserva mais tecido pulmonar.
  • Ressecção em cunha: remoção do tumor e de uma pequena parte do tecido pulmonar circundante. É usada principalmente para biópsias ou para tumores pequenos em pacientes que não suportarão a remoção de um lobo inteiro.
  • Ressecção segmentar ou segmentectomia: remoção de um segmento do lobo pulmonar onde o tumor está localizado. É indicada para pacientes com capacidade pulmonar limitada ou tumores pequenos.
Radioterapia

Diferentes tipos de radioterapia podem ser usados no tratamento deste tipo de tumores como a radioterapia conformacional 3D, a braquiterapia, a radioterapia com modulação da intensidade (IMRT), a terapia com arco de modulação volumétrica (VMAT), a radiocirurgia estereotáxica (SBRT), e a radioterapia por feixe de prótons.

Terapia sistêmica

É o termo genérico para tratamentos que usam substâncias que combatem as células cancerígenas em todo o corpo por meio da corrente sanguínea. Pode ser administrada por via oral, subcutânea, intramuscular ou intravenosa.

A terapia sistêmica pode incluir quimioterapia (antes ou após a cirurgia), imunoterapia (que fazem as próprias defesas do organismo reconhecer e atacar o câncer) e terapias-direcionadas (uso de drogas que miram moléculas específicas que levam à proliferação das células cancerígenas, bloqueando sua ação – os testes genéticos podem auxiliar a descobrir mutações que favorecem o surgimento de tumores).

Imunoterapia

A imunoterapia é hoje um dos tratamentos mais usados para o câncer de pulmão. O combate ao câncer de pulmão de células não pequenas, em especial, inclui o uso de imunoterapias inibidoras de check-point, que retiram as amarras do sistema imunológico para fazê-lo atacar as células cancerígenas. Alguns dos medicamentos mais usados são o nivolumab e o pembrolizumab, que interrompem a ação do PD-1, uma proteína do sistema imune.

Terapia direcionada

Para sobreviver, crescer e se disseminar, as células cancerígenas usam moléculas específicas, usualmente proteínas. As terapias direcionadas interrompem ou retardam o crescimento do câncer interferindo nestas moléculas. Atualmente, existem terapias direcionadas para muitos subtipos de adenocarcinoma.

Inibidores da angiogênese

Medicamentos que impedem a formação de novos vasos sanguíneos, processo conhecido como angiogênese. O fator de crescimento endotelial vascular (VEGF) é uma das principais moléculas que controlam o suprimento de sangue para o tumor. Alguns tumores são hábeis em usar essas moléculas para crescer e se espalhar. Os medicamentos chamados inibidores de angiogênese ou terapia antiangiogênica interrompem a alimentação das células cancerígenas.

Ablação por radiofrequência

Consiste no uso de ondas de rádio de alta energia para destruir células cancerígenas, frequentemente usada para tumores periféricos. A ablação pode ser feita por via percutânea, quando uma sonda fina, guiada por tomografias computadorizadas, é inserida através da pele e movida até que a ponta atinja o tumor e realize a ablação, ou por broncoscopia, quando é realizada através do tubo do broncoscópio e das vias aéreas – neste caso, o paciente deve estar anestesiado.

Diferentes tipos de ablação podem ser usados para o tratamento do câncer de pulmão, como a ablação por radiofrequência (RFA), que faz uso de ondas de rádio de alta energia para aquecer e destruir as células tumorais, a crioablação, que usa nitrogênio líquido ou gás argônio para congelar e destruir as células tumorais, e a ablação por micro-ondas, que usa energia eletromagnética para aquecer e destruir as células tumorais.

Terapia fotodinâmica (PDT)

É indicada para desobstruir as vias aéreas afetadas pelo tumor. Consiste no uso de medicamento fotossensível e um laser para destruir células cancerígenas. O fármaco é injetado na corrente sanguínea e se acumula mais nas células tumorais. Após essa etapa, um broncoscópio é inserido pela garganta até o pulmão com laser especial na sua extremidade, que localiza e destrói as células tumorais. Esse procedimento pode ser repetido.