Tipos de câncer

Câncer de Esôfago

Conheça os principais tipos Tabagismo e consumo excessivo de álcool são fatores de risco

O esôfago é uma das primeiras partes do sistema digestório, um tubo muscular que conecta a garganta ao estômago. Com cerca de 30 centímetros de comprimento, é parte do caminho percorrido pelos alimentos – que seguem adiante tanto pela ação da gravidade quanto pelas contrações do próprio órgão.

O órgão é revestido por membranas mucosas e conta com esfíncteres nas duas pontas. Na extremidade superior, a função é controlar a entrada de alimentos e líquidos. Já na parte inferior, o esfíncter tem uma dupla função: permitir que os alimentos passem para o estômago e, simultaneamente, proteger o próprio esófago da passagem do suco gástrico no sentido oposto (um quadro conhecido como refluxo gastroesofágico).

O câncer de esôfago ocorre quando células malignas presentes nas estruturas desse órgão começam a se reproduzir de forma descontrolada, em função de diferentes fatores de risco que incluem o próprio refluxo. Esse câncer se divide em dois tipos principais: o adenocarcinoma esofágico e o carcinoma de células escamosas (leia mais sobre os dois, abaixo).

O Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima o diagnóstico de 11 mil novos casos da doença por ano no Brasil.

Tipos de câncer no esôfago

Os dois tipos mais comuns de câncer no esôfago se diferenciam pelo tipo de célula afetada pelo problema de saúde. Entenda as distinções.

  • Adenocarcinoma esofágico: é o tipo mais comum de câncer de esôfago no Hemisfério Ocidental, especialmente em homens brancos. Afeta a parte inferior do esôfago, perto do estômago, onde estão localizadas as glândulas responsáveis por secretar o muco que garante o bom funcionamento do esôfago e a passagem dos alimentos por esse tubo muscular. Seu principal fator de risco é o refluxo gastroesofágico, embora situações como o esôfago de Barrett, a obesidade e o tabagismo também aumentem a propensão;
  • Carcinoma de células escamosas do esôfago: é o tipo mais comum de câncer de esôfago no mundo todo. Afeta as células que compõem a maior parte do revestimento esofágico, geralmente na parte superior e média do tubo – podendo, no entanto, ocorrer em qualquer porção do esôfago. Os principais fatores de risco para esse carcinoma incluem o tabagismo e o consumo exagerado de álcool.

Outros tipos de cânceres que podem ocorrer no esôfago incluem tumores neuroendócrinos e o linfoma.

Sintomas

O diagnóstico do câncer de esôfago nos estágios iniciais pode ser dificultado devido à ausência de sintomas quando o problema está começando. Quando ocorrem, os sinais da doença incluem:

  • Dificuldade e dor ao engolir, problemas conhecidos, respectivamente, como disfagia e odinofagia;
  • Fezes pretas;
  • Azia e indigestão persistentes;
  • Redução do apetite e perda de peso inesperada;
  • Anemia;
  • Soluços que não passam rapidamente;
  • Regurgitação e vômito;
  • Tosse crônica;
  • Rouquidão;
  • Sensação de dor e pressão na garganta ou no peito.

É importante observar que muitos desses sintomas podem ocorrer mesmo na ausência de um câncer, associados a alguns fatores de risco para outros problemas, como o refluxo. Somente a equipe médica pode realizar os exames necessários para diagnosticar corretamente o problema.

Fatores de risco

Aspectos que aumentam o risco de ter câncer de esôfago em relação à média da população incluem:

  • Idade: a maioria dos casos é diagnosticada após os 55 anos;
  • Gênero: a doença é mais comum em homens, a uma proporção de três casos em pessoas do sexo masculino para cada diagnóstico em mulheres;
  • Tabagismo: o fumo provoca alterações celulares que aumentam tanto as chances de um adenocarcinoma quanto de um carcinoma de células escamosas;
  • Consumo excessivo de álcool: os riscos aumentam progressivamente quanto maior a ingestão de bebidas alcoólicas ao longo da vida. Quando etilismo e tabagismo ocorrem em paralelo, os riscos são incrementados;
  • Refluxo gastroesofágico: pessoas com quadros persistentes de azia devem ter atenção redobrada e buscar confirmar se sofrem com o refluxo, um dos principais fatores de risco modificáveis para o câncer de esôfago. Em pacientes com refluxo, o esfíncter inferior do esôfago não consegue barrar a subida do suco gástrico presente no estômago. A acidez provoca alterações nas células do revestimento esofágico, um quadro conhecido como esôfago de Barrett, que aumenta a propensão ao desenvolvimento de um adenocarcinoma;
  • Esôfago de Barrett: o histórico de refluxo não tratado faz com que as células do revestimento do esôfago adquiram características semelhantes àquelas que revestem o intestino, levando ao chamado esôfago de Barrett. Esse problema é considerado pré-cancerígeno em muitos pacientes, exigindo monitoramento constante.

Outros pontos que podem aumentar a propensão ao câncer de esôfago incluem a obesidade, alimentação pouco saudável, a exposição a determinados produtos químicos e históricos de outros problemas de saúde, como exposição ao HPV, acalasia ou a existência prévia de outros cânceres de células escamosas que se originaram fora do esôfago.

Diagnóstico e prevenção

Exames de sangue e de imagem – que incluem raios X, PET-Scan, ressonância magnética e tomografia computadorizada – são usados para auxiliar no diagnóstico do câncer de esôfago.

Alguns testes específicos para identificar esse tumor incluem:

  • Radiografia com contraste de bário: o paciente ingere uma solução espessa com bário que se adere ao revestimento do esôfago. Com o auxílio de um raio X, o médico pode verificar alterações nos tecidos;
  • Biópsias: a biópsia consiste na remoção de uma amostra de tecido da área onde se suspeita a existência de um câncer, de modo a determinar as características das células. No caso do câncer de esôfago, a biópsia pode ser feita por:
  1. Endoscopia do trato gastrointestinal superior: com ajuda de um endoscópio (um tubo finíssimo com uma câmera), que é inserido no esôfago através da boca ou nariz, o médico consegue observar as paredes do órgão e remover uma amostra;
  2. Ultrassom endoscópico: nesse caso, o endoscópio inclui também um aparelho capaz de emitir ultrassom para produzir imagens dos órgãos internos. Diferente da endoscopia normal, que se limita à observação do revestimento superficial do esôfago, aqui é possível ter uma noção melhor do quanto o tumor se espalhou pela parede do órgão. O procedimento também pode ser acompanhado da realização de uma biópsia;
  3. Laringoscopia: semelhante à endoscopia, esse procedimento é feito com ajuda de um laringoscópio e permite avaliar a região da laringe, onde são produzidos os sons da fala;
  4. Broncoscopia: esse procedimento é realizado quando há suspeita de que o câncer se espalhou para o trato respiratório. O broncoscópio também é um aparelho com um tubo e uma câmera, mas inserido na traqueia;
  5. Biópsia com ajuda de tomografia computadorizada: quando há indícios de metástase, pode ser requisitada uma biópsia de outros órgãos internos, que exige procedimentos diferentes para coleta das amostras. A tomografia possibilita realizar a extração com precisão em relação ao local procurado.

Reduzir as chances de desenvolver o câncer de esôfago passa por evitar ou tratar os fatores de risco. Evitar o tabagismo e o consumo excessivo de álcool e manter um estilo de vida ativo são formas de minimizar os riscos para esse e outros tipos de câncer.

Tratar adequadamente o refluxo gastroesofágico é outra maneira de diminuir os impactos de um dos mais importantes fatores modificáveis que podem levar ao desenvolvimento desse tumor.

Estadiamento do câncer de esôfago

O câncer de esôfago costuma ter seu estadiamento seguindo três critérios, conhecidos como TNM – o T indica o tamanho do tumor primário e sua potencial disseminação, o N se refere à chegada da doença aos linfonodos ao redor, e o M aponta uma metástase em outras regiões do organismo.

A classificação T é a seguinte:

  • Tis: o câncer ainda está apenas no revestimento superior do esôfago, o epitélio;
  • T1: o câncer começa a crescer sob os tecidos imediatamente abaixo do epitélio, podendo receber a classificação de T1a quando atinge a região conhecida como lâmina própria ou muscularis mucosa, e T1b quando já afeta a submucosa;
  • T2: o câncer cresce sobre a camada muscular;
  • T3: o câncer atinge revestimento mais externo do esôfago;
  • T4: o câncer passa a tingir estruturas ao redor, podendo ser classificado como T4a quando afeta regiões como pleura, pericárdio e diafragma, ou T4b, quando começa a penetrar estruturas como a aorta.

A classificação N é subdividida em:

  • N0: ainda não há metástase para os linfonodos ao redor;
  • N1: o câncer se espalhou para um ou dois linfonodos vizinhos;
  • N2: o câncer chega a três a seis linfonodos;
  • N3: o câncer já atinge mais que sete linfonodos vizinhos.

Por sua vez, a classificação M abrange o M0, quando ainda não há metástase para órgãos ou linfonodos distantes, e o M1, quando essa metástase já é verificada.

A combinação das classificações TNM permite à equipe médica determinar as características do câncer, sua agressividade e prognóstico, bem como definir a melhor abordagem de tratamento com base nas características individuais do paciente – que também levam em conta a saúde geral e a localização do tumor primário, entre outros fatores.

Tratamento

A melhor abordagem de tratamento para o câncer de esôfago depende de características individuais do caso e da saúde geral do paciente. A escolha pela terapia varia conforme o estágio da doença e, em algumas situações, pode ser feita até mesmo de forma preventiva, quando há indícios de um alto risco de desenvolver o câncer, como na presença de um quadro de esôfago de Barrett.

Conheça abaixo algumas das técnicas empregadas:

Tratamentos preventivos

Essas abordagens podem ser indicadas quando ainda não há um diagnóstico de câncer propriamente dito, mas os exames diagnosticaram alterações que podem levar ao desenvolvimento do tumor. A situação mais frequente em um estágio pré-câncer é um esôfago de Barrett em estágios iniciais. Ele pode ser tratado com:

  • Crioterapia: substâncias a temperaturas baixíssimas são aplicadas aos tecidos pré-cancerígenos de modo a congelá-los e matar as células que podem causar complicações;
  • Ablação por radiofrequência: com ajuda de um endoscópio, calor é aplicado ao tecido identificado como fator de risco, de modo a eliminá-lo.
Tratamentos para o câncer em estágios iniciais

Dependendo do estadiamento do câncer, a equipe médica pode concluir que ele ainda está em uma posição superficial, o que pode permitir abordagens menos invasivas. Nessas situações, o tratamento costuma ser feito com a ressecção endoscópica da mucosa ou dissecção endoscópica submucosa, um procedimento para remover a área sem a realização de incisões ou a remoção do esôfago propriamente dito.

Tratamentos para o câncer avançado

Quando há identificação de que o tumor chegou também aos tecidos vizinhos ou a órgãos mais distantes, costuma ser necessário recorrer a outras técnicas, muitas vezes em paralelo. As abordagens nessa fase podem incluir:

  • Cirurgia: método de tratamento mais utilizado para os tumores avançados, ela envolve a remoção parcial ou total do esôfago (um procedimento conhecido como esofagectomia), podendo também exigir a retirada de parte do estômago e os linfonodos vizinhos. Após a esofagectomia, a reconstrução pode envolver conectar diretamente as partes restantes do estômago e do esôfago ou o uso de uma parte do intestino para refazer o caminho. Determinar o tamanho e localização das remoções, bem como o tipo de reconstrução, depende de avaliação médica com base na avaliação do quadro. A cirurgia costuma restituir a qualidade de vida dos pacientes, com pequenas adaptações como o uso e uma sonda para alimentação no pós-operatório, e a realização de refeições mais frequentes e menores no dia a dia, para compensar a redução do estômago. Outra abordagem cirúrgica pode envolver a colocação de stents no esôfago, como uma forma de melhorar a qualidade de vida durante o tratamento, ao combater possíveis bloqueios ocasionados pelo crescimento de massas na região;
  • Quimioterapia: nesse tratamento, fármacos específicos são empregados para combater as células tumorais malignas. Ela pode ser usada antes e/ou depois da cirurgia, para reduzir os riscos de uma metástase ou já tratar os seus efeitos;
  • Radioterapia: nesse tratamento, utiliza-se radiação de forma direcionada para matar as células associadas ao câncer. Essa abordagem também pode ser realizada de forma adjuvante à cirurgia;
  • Imunoterapia: nesse modelo de tratamento, o próprio sistema imunológico do paciente é utilizado contra o câncer. Para câncer de esôfago, os pacientes podem receber uma imunoterapia conhecida como os inibidores de check-point, que faz com que o sistema imunológico ataque o tumor. Esse tratamento ainda vem sendo estudado para cânceres em estágios iniciais, sendo atualmente mais empregado em situações nas quais o tumor já avançou;
  • Terapia-alvo: na terapia alvo, moléculas especificamente elaboradas para afetar o crescimento de um câncer, bloqueando a ação de alguns genes e enzimas.