Situado logo abaixo do estômago, o pâncreas é um órgão pequeno – chega a 15 cm em adultos – de grande importância para o sistema endócrino: hormônios e enzimas que atuam na digestão e no controle dos níveis de glicose no sangue são produzidos no órgão.
É comum que os tumores de pâncreas se desenvolvam sem causar sintomas, tornando o diagnóstico precoce raro. Como a maioria dos casos é detectado em um estágio avançado, os tumores de pâncreas malignos são um dos tipos mais letais de câncer.
De maneira geral, duas células predominam no pâncreas: as endócrinas, relacionadas à produção de hormônios; e as exócrinas, que produzem enzimas.
O câncer pancreático é classificado de acordo com o tipo de célula atingida. Quando a doença começa nas células exócrinas, o câncer é chamado de adenocarcinoma pancreático, que será mais detalhado abaixo. Já quando o câncer atinge as células endócrinas, o nome dado à doença é tumor pancreático neuroendócrino (NET), no qual existem subtipos (ver mais no link sobre tumor neuroendócrino).
Os adenocarcinomas, que crescem nas células exócrinas do pâncreas – que produzem enzimas digestivas – representam a maior parte dos diagnósticos de câncer pancreático: mais de 80% dos casos.
O câncer de pâncreas costuma provocar poucos sintomas ou gerar sinais difíceis de identificar. Por isso, é raro diagnosticar esse tipo de câncer precocemente.
A principal recomendação de especialistas é buscar um médico para avaliar qualquer sintoma, mesmo que difuso, que perdure por algumas semanas.
Os sintomas também variam bastante de acordo com a classificação do tumor – neuroendócrino ou adenocarcinoma.
Os adenocarcinomas, das células exócrinas, podem causar:
Os principais fatores que elevam o risco de desenvolvimento de câncer pancreático são o tabagismo e a obesidade. Pessoas que fumam ou utilizam tabaco têm quase o dobro de chance de ter câncer de pâncreas, quando comparados a não-fumantes.
O excesso de peso extremo também aumenta a probabilidade de desenvolver câncer de pâncreas.
Outras condições estão relacionadas com risco maior para o câncer pancreático:
O diagnóstico do câncer pancreático costuma ocorrer de forma tardia, quando o câncer já está em estágio avançado. Não é comum fazer rastreamento amplo do câncer de pâncreas na população, por isso, o diagnóstico deve ser feito a partir da sintomatologia.
A prevenção fica centrada nos fatores de risco evitáveis: o tabagismo, a obesidade, o uso abusivo de álcool e o sedentarismo.
Exames de sangue podem sugerir a presença de um tumor pancreático a partir da avaliação dos níveis de substâncias que indicam a função do fígado, como a bilirrubina, ou de outros órgãos afetados por um tumor pancreático também podem indicar a presença da doença. Amostras de sangue também podem ser usadas para identificar marcadores tumorais, como CA-19-9. Altos níveis desses marcadores associados ao câncer pancreático podem indicar sua presença e também servem para monitorar o tratamento.
Outros procedimentos diagnósticos incluem exames de imagem, como a tomografia computadorizada, que pode ajudar a visualizar os tumores, o ultrassom endoscópico e ressonância magnética, que auxiliam a mapear o avanço do tumor. Esses exames podem incluir uso de contraste. Há também a colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE), exame que combina endoscopia e radiografia e requer anestesia geral para ser realizado. Consiste na inserção de um duodenoscópio pela boca do paciente até o duodeno, onde é injetado um contraste líquido nas vias biliares e/ou pancreáticas para visualizar as estruturas afetadas pelo câncer. A CPRE serve tanto para retirar amostras de tecido para biópsia como para guiar a colocação de stents caso os dutos estiverem bloqueados.
A tomografia por emissão de pósitrons (PET scan) também pode ser usada no câncer de pâncreas. O exame usa uma pequena quantidade de açúcar radioativo (também chamado de glicose), injetada em uma veia. Ao girar em torno do corpo do paciente, o scanner faz imagens detalhadas e computadorizadas de áreas onde a glicose é absorvida. Como as células cancerígenas geralmente absorvem mais glicose do que as células normais, as imagens podem ser usadas para encontrar células cancerígenas. Uma tomografia por emissão de pósitrons e uma tomografia computadorizada podem ser feitas ao mesmo tempo. Isso é chamado de PET-CT.
Biópsias também podem ser realizadas, e servem principalmente para analisar a presença de células cancerosas nos linfonodos próximos do pâncreas.
Para determinar o estágio do câncer, outros exames úteis são laparoscopias. Testes de biomarcadores funcionam como um perfil molecular do tumor e podem indicar qual o melhor curso de tratamento para a doença.
Como é comum que o câncer pancreático seja assintomático, a maioria dos casos só é diagnosticada quando o grau do tumor já é avançado. Por isso, o câncer de pâncreas é um dos tipos mais letais.
O modelo TNM é usado para definir o estágio da maioria dos tumores: na sigla, o T indica o tamanho do tumor e o alcance a tecidos próximos do órgão; o N se refere à presença de câncer em linfonodos próximos; e o M indica se há metástase.
No caso do câncer de pâncreas, os estágios da doença são delimitados em 5 fases:
A tipologia dos graus do câncer pode variar se o tumor for do tipo neuroendócrino.
Os três principais tipos de tratamento que compõem o curso terapêutico de pacientes com câncer pancreático são a cirurgia, a quimioterapia, a radioterapia e a terapia-alvo.
Estima-se que a cirurgia seja uma opção em 20% dos casos de câncer no pâncreas. Além do estado de saúde do paciente, é preciso considerar o grau de metástase e o tamanho do tumor.
Em geral, a cirurgia envolve a remoção de partes do pâncreas, do intestino, da bexiga, do ducto biliar, do estômago e linfonodos.
Procedimentos cirúrgicos também podem ser realizados para tratar problemas gerados pelo câncer, e em alguns casos, servem como tratamento paliativo.
A principal complicação que gera indicação de cirurgia é o bloqueio do ducto biliar. Um stent pode ser inserido para manter o ducto aberto, ou uma operação de bypass pode ser feita para redirecionar o ducto, conectando-o ao intestino.
A quimioterapia pode ser empregada antes ou depois da cirurgia. Em casos em que antecede a cirurgia, sua função é diminuir o tamanho do tumor para permitir a operação. Pode envolver um único medicamento ou uma combinação de dois ou mais medicamentos, dependendo do tipo de câncer e da rapidez com que o tumor cresce. A escolha da medicação depende da capacidade do paciente de tolerar a terapia.
A radioterapia pode ser utilizada concomitantemente ou não à quimioterapia. Quando é feita após a cirurgia, a quimioterapia ajuda a destruir células cancerosas remanescentes.
Além de ajudar a definir qual quimioterápico pode beneficiar o paciente, o mapeamento de marcadores do tumor ajuda a indicar se a terapia-alvo ou a imunoterapia serão boas opções para aquele caso.
Quando há metástase no fígado, a radioterapia também pode ser direcionada diretamente aos vasos sanguíneos que alimentam o tumor no órgão. Existem diversos tipos de radioterapia que podem ser aplicados, como a Conformacional tridimensional (3D-CRT), a radioterapia de intensidade modulada (IMRT, na sigla em inglês), a terapia por feixe de prótons e a radioterapia estereotáxica corpórea (SBRT).
Outra opção de tratamento é a terapia-alvo, técnica da medicina de precisão. As drogas empregadas miram em moléculas específicas, envolvidas na sinalização da multiplicação de células cancerosas, a fim de diminuir o crescimento do tumor ou mesmo impedi-lo.
A reposição de enzimas pancreáticas deve ser realizada a longo prazo quando o câncer ou o tratamento levam à insuficiência pancreática. Outro problema que pode aparecer é o diabetes induzido pelo câncer, já que cirurgias podem reduzir a capacidade do órgão de produzir hormônios. Pode ser necessário incluir doses de insulina no tratamento da doença.
O apoio de uma equipe multidisciplinar é importante para tratar tanto o câncer quanto os efeitos colaterais do tratamento. O auxílio de nutricionistas, por exemplo, ajuda a aliviar os problemas de absorção de nutrientes que aparecem em alguns casos de câncer pancreático.
A longo prazo, exames de sangue para verificar a presença de biomarcadores na corrente sanguínea e exames de imagem devem ser feitos para verificar se há recorrência do câncer.